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Perfil rural do município de Serra Preta, Ba

Serra Preta, município baiano de 15 mil habitantes, possui a agropecuária como a principal atividade que movimenta a economia. Com clima quente e seco durante maior parte do ano, está inserido no polígono das secas, e segundo o senso 2010 do IBGE, ainda assim, mais da metade da população reside na zona rural, cerca de 56%. Isso reforça a necessidade de dar maior atenção às pessoas que lá vivem, pois é este contingente que enfrenta grandes dificuldades de convivência no semiárido, não pelas dificuldades imposta pelo clima, mas por faltar politicas efetivas que assegurem a permanência e convívio nessa região. Para definir as politicas mais necessitadas e importantes para a população, é necessário primeiro traçar o perfil rural do município.
Localização do município de Serra Preta, no Território de Identidade da Bacia do Jacuípe

Com vegetação predominantemente caatinga, há cerca de 42 mil hectares de estabelecimentos agropecuários que estão subordinados os processos de produção aos ciclos climáticos. De acordo com SILVA (1988) o clima da zona semiárida no Nordeste é caracterizado principalmente por temperatura altas, sendo a média das máximas 30°C, pluviosidade média oscilando em 400 e 800 mm anuais e período estivais estendidos por 6 a 8 meses. Vale salientar que há índices bastante diferentes, dentro dessa mesma região. Nos dois últimos anos, assim como boa parte dos municípios baianos, Serra Preta vem sendo castigada pela estiagem prolongada, a falta de chuva acarretou na perda parcial e, em alguns casos, totalmente das lavouras, segundo alguns estudiosos esta é a maior seca dos últimos 40 anos.
A produção rural abrange desde a criação de abelhas, aves e criação de gado, este mais expressivo, sendo destinados 12.308 hectares para pastagens, também há estabelecimentos onde há criação de caprinos, animais mais resistentes as intempéries da região. Os produtos oriundos da produção animal são destinados para abastecer o consumo interno, mas também ao município vizinho de Feira de Santana. Contudo, a quantidade destinadas a esse consumo interno sofre algumas barreiras, como a proibição de abatedouros em povoados, sendo somente liberada a carne oriunda de outros municípios, ou seja, nada rentável para a economia do município. Durante o período das chuvas, há grande aumento na produção do leite, que é encaminhado ao fabrico de queijos e requeijões em pequenas fábricas rudimentares, os produtos são vendidos, em grande parte, também em Feira. Porém, essa prática vem perdendo força, há muito fabricos desativados, como são denominados os estabelecimentos familiares onde se produz os derivados do leite. 

Rebanho durante o período de estiagem. Serra Preta, abril de 2012.
Nos entornos da localidade de Aroeira, no mesmo município, há dez anos existiam três dessas fábricas, hoje somente uma funciona e com produção muito reduzida, uma das causas dos fechamentos são as dificuldades enfrentadas durante os períodos de estiagem, quando cai a produção do leite.
A produção vegetal é baseada quase em sua totalidade, em lavouras temporárias, somam 762 ha, principalmente com milho e feijão, culturas anuais, plantadas e colhidas apenas uma vez durante o ano agrícola. Tradicionalmente plantadas em consórcio, as duas culturas movimentam 0.65 milhões de reais por ano, sendo 240 toneladas de feijão e 320 toneladas de milho. A maior parte dessa produção vem da agricultura familiar, onde as unidades produtivas são pequenas propriedades, com conhecimento técnico resultado da experiência transmitida de geração em geração pela observação e pela pratica. São poucos os estabelecimentos que usufruem da mecanização sofisticada, algumas se valem do arado de tratores para o preparo do solo, mas é dominante o uso de ferramentas e equipamentos simples e rudimentares, como a foice e a enxada para limpar e revirar a terra para o plantio.
Plantação de feijão em solo preparado com arado. Serra Preta, junho de 2012.
De acordo com DUQUE (2004) a conservação do solo é o uso eficiente da terra, sob os diversos sistemas agrícolas que salvaguarda do empobrecimento. Os solos agricultáveis do município estão bastante desgastados, uma vez que é prática comum o plantio contínuo numa mesma área, sendo o tempo de descanso do solo o período de entressafra. É inexpressivo o uso de fertilizantes orgânicos ou insumos, tampouco outras técnicas de adubação, como adubação verde. É comum o sistema de derruba e queima, principalmente em encostas e morros, eliminando a vegetação nativa e deixando o solo desprotegido, em seguida ateando fogo para eliminar a vegetação forrageira. Durante os primeiros anos de cultivo na área desmatada, há um bom desempenho das lavouras, contudo, com o passar de poucos anos, já se faz necessário intervenções no solo, o que não ocorre, sendo a abertura de novas áreas a alternativa encontrada por esses agricultores. Essa sistema aumenta consideravelmente a velocidade do processo de lixiviação e, sobretudo a erosão, facultando abertura de voçorocas e sucessivo assoreamento de córregos, rios e riachos da região, como já é visível no Rio Jacuípe, na divisa com o município de Feira de Santana, o leito com grande quantidade depositada de material oriundo da erosão.
Leito do Rio Jacuípe na divisa municipal nordeste com Feira de  Santana.
Outra questão que merece atenção na área rural do município é o uso da água nas propriedades. A região é cortado por dois rios, rio das Pedras, intermitente de pequeno porte, e o rio Jacuípe, perene. Não se pode deixar de citar o descuido para com a preservação dos mananciais, nota-se que a matas ciliares são inexpressivas ou inexistentes, deixando as margens desprotegidas. No que se diz em relação a utilização dessas águas para irrigação, houve tentativas frustradas de seu uso, sendo que é comum em algumas épocas do ano a salinização no rio Jacuípe, quando as grandes estiagens diminuem bruscamente a vazão do rio. Não há barragens que facultem o uso de irrigação ou para a piscicultura, sendo o principal uso para matar a sede dos animais das propriedades próximas.
Leito do Rio das Pedras. Serra Preta, abril de 2012.

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